Manuscritos Econômico-Filosóficos

Karl Marx

Terceiro Manuscrito


Necessidades, Produção e Divisão do Trabalho

(XIV) (7) Vimos que a importância deve ser atribuída, em uma perspectiva socialista, à riqueza das necessidades humanas, e conseqüentemente também a um novo sistema de produção e a um novo objeto de produção. Uma nova manifestação das forças humanas e um novo enriquecimento do ser humano. Dentro do sistema da propriedade privada, ela tem o significado diametralmente oposto. Cada homem especula sobre a criação de uma nova necessidade no outro a fim de obrigá-lo a um novo sacrifício, colocá-lo sob nova dependência, e induzi-lo a um novo tipo de prazer e, em conseqüência, à ruína econômica. Todos procuram estabelecer um poder estranho sobre os outros, para com isso encontrar a satisfação de suas próprias necessidades egoístas. Com a massa de objetos, por conseguinte, cresce também o reino de entidades estranhas a que o homem se vê submetido. Cada novo produto é uma nova potencialidade de mútua fraude e roubo. O homem torna-se cada vez mais pobre como homem; ele tem necessidade crescente de dinheiro para poder apossar-se do ser hostil. O poder de seu dinheiro diminui na razão direta do aumento do volume da produção, i. é, sua necessidade cresce com o poder crescente do dinheiro. A necessidade de dinheiro é, pois, a necessidade real criada pela economia moderna, e a única necessidade por esta criada. A quantidade de dinheiro torna-se cada vez mais sua única qualidade importante. Assim como ele reduz toda entidade a sua abstração, também se reduz a si mesmo, em seu próprio desenvolvimento, a uma entidade quantitativa. Excesso e imoderação passam a ser seu verdadeiro padrão. Isso é demonstrado subjetivamente, em parte pelo fato de a expansão da produção e das necessidades tornar-se uma subserviência engenhosa e sempre calculista a apetites desumanos, depravados, antinaturais e imaginários. A propriedade privada não sabe como transformar a necessidade bruta em necessidade humana; seu idealismo é fantasia, capricho e ilusão. Nenhum eunuco lisonjeia a seu tirano de forma mais desavergonhada nem procura por meios mais infames estimular seu apetite embotado, a fim de granjear algum favor, do que o eunuco da indústria, o homem de empresa, a fim de adquirir algumas moedas de prata ou de atrair o ouro da bolsa de seu amado próximo. (Todo produto é uma isca por meio da qual o indivíduo tenta engodar a essência da outra pessoa, o dinheiro desta. Toda necessidade real ou potencial é uma fraqueza que atrairá o passarinho para o visgo. A exploração universal da vida humana em comunidade. Como toda imperfeição do homem é um vínculo com o céu, um ponto em que seu coração é acessível ao sacerdote, assim também toda necessidade material é uma oportunidade para a gente aproximar-se do próximo, com uma atitude amistosa, e dizer: "Caro amigo, dar-lhe-ei aquilo de que você precisa, mas você conhece a conditio sine qua non . Você sabe qual tinta tem de usar para entregar-se a mim. Eu o trapacearei ao proporcionar-lhe satisfação.") O homem de empresa concorda com os mais depravados caprichos de seu próximo, desempenha o papel de alcoviteiro entre eles e suas necessidades, desperta apetites mórbidos, nele, e presta atenção a cada fraqueza a fim de, posteriormente, reivindicar a remuneração por esse serviço de amor.

Essa alienação é em parte mostrada pelo fato de o requinte das necessidades e dos meios de satisfazê-las produzir, como correspondente, uma selvajaria bestial, uma simplicidade completa, primitiva e abstrata das necessidades; ou melhor, simplesmente reproduzir-se no sentido oposto. Para o trabalha dor, até a necessidade de ar fresco deixa de ser uma necessidade. O homem volta novamente a morar em cavernas, mas agora é envenenado pelo ar pestilento da civilização. O trabalhador só tem um direito precário a habitá-las, pois elas se transformaram em residências estranhas que de repente podem não estar mais disponíveis, ou de que ele pode ser despejado se não pagar o aluguel. Ele tem de pagar por esse sepulcro. A residência cheia de luz que Prometeu, em Ésquilo, indica como uma das grandes dádivas por meio das quais converteu selvagens em homens, deixa de existir para o trabalhador. Luz, ar, e a mais singela limpeza animal deixam de ser necessidades humanas. A imundície, essa corrupção e putrefação que corre pelos esgotos da civilização (isto deve ser tomado literalmente), torna-se o elemento em que o homem vive. Negligência total e antinatural, a natureza putrefata, passa a ser o elemento em que ele vive. Nenhum de seus sentidos sobrevive, seja sob forma humana, seja mesmo em forma não-humana, animal. Os processos (e instrumentos) mais grosseiros de trabalho humano reaparecem; assim, o moinho acionado pelos pés dos escravos romanos tornou-se o modo de produção e o modo de existência de muitos operários ingleses. Não basta que o homem perca suas necessidades humanas; até as necessidades animais desaparecem. Os irlandeses não mais têm nenhuma necessidade senão a de comer - comer batatas, e ainda assim só da pior espécie, batatas bolorentas. Mas a França e a Inglaterra já possuem em toda cidade industrial uma pequena Irlanda. Selvagens e animais podem, ao menos, satisfazer suas necessidades de caçar, fazer exercício e ter companheiros. A simplificação da maquinaria e do trabalho, porém, é utilizada para fazer operários dos que ainda estão crescendo, que ainda estão imaturos, crianças, enquanto o próprio operário converteu-se em uma criança desatendida de qualquer cuidado. A maquinaria é adaptada à fraqueza do ser humano, de modo a transformar o fraco ser humano em máquina.

O fato de o aumento das necessidades e dos meios de satisfazê-las resultar em uma falta de atendimento das necessidades e meios de satisfazê-las, é demonstrado de várias maneiras pelo economista (e pelo capitalista; com efeito, é sempre a homens de negócios empíricos que nos referimos quando falamos de economistas, que são sua auto-revelação e existência científica). Primeiramente, reduzindo as necessidades do trabalhador às míseras exigências ditadas pela manutenção de sua existência física, e reduzindo a atividade dele aos movimentos mecânicos mais abstratos, o economista assevera que o homem não tem necessidade de atividade ou prazer além daquelas; e no entanto declara ser esse gênero de vida um gênero humano de vida. Em segundo lugar, aceitando como padrão geral de vida (geral por ser aplicado à massa dos homens) a vida mais pobre que se possa conceber; ele transformar o trabalhador em um ser destituído de sentidos e necessidades, assim como transforma a atividade dele em uma abstração pura de toda atividade. Assim, todo o luxo da classe trabalhadora parece-lhe condenável, e tudo que ultrapasse a mais abstrata exigência (quer se trate de uma satisfação passiva ou uma manifestação de atividade pessoal) é encarada como luxo. A Economia Política, a ciência da riqueza, portanto, ao mesmo tempo, a ciência da renúncia, da privação e da poupança, que de fato consegue privar o homem de ar fresco e de atividade física. A ciência de uma indústria maravilhosa é, concomitantemente, a ciência do ascetismo. Seu verdadeiro ideal é o sovina, ascético porém usurário, e o escravo ascético porém produtivo. Seu ideal moral é trabalhador que leva uma parte do salário para a caixa econômica. Chegou mesmo a achar uma arte servil para corporificar essa idéia favorita, que foi apresentada de forma sentimental no palco. Assim, a despeito de sua aparência mundana e sequiosa de prazeres, ela é uma ciência verdadeiramente moralista, a mais moralista de todas as ciências. Sua tese principal é a renúncia à vida e às necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, for ao teatro ou a bailes, ou ao botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir, etc., tanto mais se poderá economizar e maior se tornará o tesouro imune à ferrugem e às traças - o capital. Quanto menos se for, quanto menos se exprimir nossa vida, tanto mais se terá, tanto maior será nossa vida alienada e maior será a economia de nosso ser alienado. Tudo o que o economista tira da gente sob a forma de vida e humanidade, devolve sob a de dinheiro e riqueza. E tudo que não se pode fazer, o dinheiro pode fazer para a gente; pode-se comer, beber, ir ao baile e ao teatro. Ele pode adquirir arte, saber, tesouros históricos, poder político; e pode-se viajar. Ele pode apropriar todas essas coisas para a gente, pode comprar tudo; ele é a verdadeira opulência. Mas, apesar de poder fazer tudo isso, ele só quer criar a si mesmo, e comprar a. si mesmo, pois tudo mais se lhe submete. Quando se possui o dono, também se possui o servo, e ninguém precisa do servo do dono. Dessa maneira, todas as paixões e atividades têm de ser submersas na avareza. O trabalhador deve ter apenas o que lhe é necessário para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso.

É verdade que apareceu certa controvérsia no campo da Economia Política. Alguns economistas (Lauderdale, Malthus, etc) advogam o luxo e condenam a poupança, enquanto outros (Ricardo, Say, etc.), advogam a poupança e condenam o luxo. Mas, os primeiros admitem que desejam luxo a fim de criar trabalho, i. é, poupança absoluta, ao passo que os últimos admitem que advogam a poupança a fim de criar a riqueza, i. é, luxo. Os primeiros têm a idéia romântica de que a avareza não deve determinar por si só o consumo dos ricos, e contradizem suas próprias leis ao representar a prodigalidade como sendo um meio direto de enriquecer; seus opositores, então, demonstram com grande minúcia e convicção, que a prodigalidade diminui ao invés de aumentar minhas posses. O segundo grupo é hipócrita, ao não admitir que são o capricho e a fantasia que determinam a produção. Esquecem-se das "necessidades requintadas", e que sem consumo não haveria produção. Esquecem-se de que, através da competição, a produção tem de tornar-se sempre mais universal e luxuosa, que é o uso que determina o valor das coisas e que o uso é função da moda. Eles querem que a produção seja limitada a "coisas úteis", mas esquecem que a produção de um número excessivo de coisas úteis resulta em muitas pessoas inúteis. Ambos os lados esquecem que prodigalidade e parcimônia, luxo e abstinência, riqueza e pobreza, são equivalentes.

Não se tem de ser abstinente apenas na satisfação de nossos sentidos diretos, como comer, etc., mas também em nossa participação em interesses gerais, nossa compaixão, confiança, etc., se se deseja ser econômico e evitar arruinar-se devido a ilusões.

Tudo o que se possui deve ser tornado venal, i. é, útil. Suponhamos que eu pergunte ao economista: estou agindo de acordo com as leis econômicas se ganhar dinheiro com a venda de meu corpo, prostituindo-o à concupiscência de outra pessoa (na França, os operários chamam à prostituição de suas esposas e filhas a enésima hora de trabalho, o que é literalmente verdadeiro); ou se eu vender meu amigo aos marroquinos (e a venda direta de homens ocorre em todos os países civilizados sob a forma de alistamento nas forças armadas)? Ele responderá: você não está agindo contra as minhas leis, mas tem de levar em conta o que a Prima Moral e a Prima Religião têm a dizer. Minha moralidade e religião econômicas nada têm a objetar, porém Mas, a quem se deve dar crédito, ao economista ou ao moralista? A moral da economia política é ganho, trabalho, parcimônia e sobriedade - no entanto, a economia política promete satisfazer minhas necessidades. A economia política da moral é a riqueza de uma boa consciência, virtude, etc., mas como posso ser virtuoso se não estiver vivo e como posso ter uma boa consciência se não me der conta de nada? A natureza da alienação subentende que cada esfera aplica uma norma diferente e contraditória, que a Moral não aplica a mesma norma que a Economia Política, etc., porque cada uma delas é uma alienação particular do homem; (XVII) cada uma está concentrada em uma área específica de atividade alienada e, por sua vez, acha-se alienada da outra.

É assim que M. Michel Chevalier censura Ricardo por não levar em conta a Moral. Mas Ricardo deixa a Economia Política falar sua língua própria; não se deve condená-lo se essa língua não é a da Moral. M. Chevalier ignora a Economia Política, ao preocupar-se unicamente com a Moral, mas ignora de fato e necessariamente a Moral quando se preocupa com a Economia Política; pois o reflexo desta naquela é arbitrário e acidental, carecendo, assim, de qualquer base ou caráter científico, uma mera impostura, ou então é essencial e só pode ser então uma relação entre as leis econômicas e a Moral. Se não existe uma relação assim, pode Ricardo ser chamado à responsabilidade? Outrossim, a antítese entre Moral e Economia Política é em si mesma apenas aparente; há uma antítese e igualmente não há antítese. A Economia Política exprime à sua própria maneira, as leis morais.

A ausência de exigências, como princípio da economia política, é atestada da forma mais chocante em sua teoria da população. Há homens em demasia. A própria existência do homem é puro luxo, e se o trabalhador for "moralizado" , ele será econômico ao procriar. (Mill sugere louvor público aos que se mostrarem abstêmios nas relações sexuais, e condenação pública aos que pequem contra a esterilidade do matrimônio. Não é essa a doutrina moral do ascetismo?) A produção de homens afigura-se uma desgraça pública.

O significado da produção com relação aos ricos é revelado no que tem para os pobres. No alto, sua manifestação é sempre requintada, disfarçada, ambígua, uma aparência; nas camadas inferiores, ela é crua, franca, sem rodeios, uma realidade. A necessidade áspera do trabalhador é fonte de muito maior lucro do que a necessidade requintada do abastado. As moradias em porões de Londres dão mais aos senhorios do que os palácios, i. é, elas constituem maior riqueza no que toca ao senhorio e, assim, em termos econômicos, maior riqueza social.

Assim como a indústria se reflete no refinamento das necessidades, também o faz em sua rudeza, e na rudeza delas produzida artificialmente, cuja verdadeira alma é a auto-estupefação, a satisfação ilusória das necessidades, uma civilização dentro da barbárie grosseira da necessidade. As tavernas inglesas, são, portanto, representações simbólicas da propriedade privada. Seu luxo desmascara a relação real do luxo industrial e da riqueza com o homem. Elas são, pois, adequadamente, o único divertimento dominical do povo, pelo menos tratado com brandura pela polícia inglesa.

Já vimos como o economista estabelece a unidade do trabalho e do capital de várias maneiras: (1) o capital é trabalho acumulado; (2) a finalidade do capital dentro da produção - em parte a reprodução do capital com lucro, em parte o capital como matéria-prima (material do trabalho), em par te o capital como ele mesmo um instrumento de trabalho (a máquina é capital fixo, que é idêntico ao trabalho) - é trabalho produtivo; (3) o trabalho é capital; (4) os salários fazem parte dos custos do capital; (5) para o trabalhador, o trabalho é a reprodução de seu capital-vida; (6) para o capitalista, o trabalho é um fator na atividade de seu capital.

Por fim, (7) o economista pressupõe a união original de capital e trabalho como união de capitalista e trabalhador. Essa é a situação paradisíaca original. Como esses dois fatores (XIX), tal como se fossem duas pessoas, avançam para a garganta do outro, é, para o economista, um acontecimento fortuito que por isso pode ser explicado apenas pelas circunstâncias exteriores (ver Mill).

As nações ainda estonteadas pelo fulgor físico de metais preciosos e, por isso, ainda fetichistas do dinheiro metálico, não são ainda nações financeiras plenamente desenvolvidas. Com pare-se a França com a Inglaterra. A medida em que a solução de um problema teórico incumbe à prática, e é conseguida pela prática, e a medida em que a prática correta é a condição para uma teoria verídica e positiva, é demonstrada, por exemplo, no caso do fetichismo. A percepção sensorial de um fetichista difere da de um grego porque sua existência sensorial é diferente. A hostilidade abstrata entre sentidos e espírito é inevitável enquanto o sentido humano para a natureza, ou o significado humano da natureza, e conseqüentemente o sentido natural do homem, não tiver sido produzido por meio do trabalho do próprio homem.

A igualdade nada mais é que o alemão "Ich-Ich", traduzido para a forma francesa, i. é, política. A igualdade como base do comunismo é uma fundação política e é a mesma de quando os alemães apóiam sobre ela o fato de conceberem o homem como autoconsciência universal. Está claro, a transcendência da alienação sempre provém da forma de alienação que é a força dominante; na Alemanha, autoconsciência; na França, igualdade, por causa da política; na Inglaterra, a necessidade real, material, auto-suficiente, prática. Proudhon deve ser apreciado e criticado sob este ponto de vista.

Se agora caracterizarmos o próprio comunismo (pois, como negação da negação, como a apropriação da existência humana que medeia entre uma e outra por meio da negação da propriedade privada não é a posição verdadeira, originada por si mesma, mas antes, uma que parte da propriedade privada)[N2] . . . a alienação da vida humana continua e uma alienação bem maior continua quanto mais a gente tem consciência disso) só pode ser realizada pelo estabelecimento do comunismo. A fim de revogar a idéia de propriedade privada bastam as idéias comunistas, mas é necessária atividade comunista genuína no sentido de revogar a propriedade privada real. A História produzirá, e a evolução que já em pensamento reconhecemos como autotranscendente na realidade implicará em um processo severo e prolongado. Temos, entretanto, de considerá-lo um avanço, pois obtivemos previamente uma noção da natureza limitada e do alvo da evolução histórica e podemos ver para além dela.

Quando artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda são seus primeiros objetivos. Mas, sua própria associação cria uma necessidade nova - a necessidade da sociedade - o que parecia ser um meio torna-se um fim. Os resultados mais notáveis desse fato prático podem ser vistos quando operários socialistas franceses se reúnem. Fumar, comer e beber não mais são meios de congregar pessoas. A sociedade, a associação, o divertimento tendo também como fito a sociedade, é suficiente para eles; a fraternidade do homem não é frase vazia, mas uma realidade, e a nobreza do homem resplandece sobre nós vindo de seus corpos fatigados.

(XX) Quando a Economia Política afirma que a oferta e a procura sempre se equilibram, esquece imediatamente sua própria tese (a teoria da população) de que a oferta de homens sempre excede a procura, e conseqüentemente, que a desproporção entre oferta e procura é mais chocantemente expressa no fim essencial da produção - a existência do homem.

O grau até o qual o dinheiro, que tem a aparência de um meio, é o poder real e o único fim, e em geral o grau até que o meio que me assegura a existência e posse do ser objetivo estranho é um fim em si mesmo, podem ser vistos no fato da propriedade agrária onde a terra é a fonte da vida, e cavalo e espada onde estes são os verdadeiros meios de vida, são também reconhecidos como os verdadeiros poderes políticos. Na Idade Média, um estado torna-se emancipado quando tem o direito de levar espada. Entre povos nômades, é o cavalo que torna livre o homem, fazendo-o membro da comunidade.

Dissemos, acima, que o homem está regressando à habitação da caverna, mas numa forma alienada e maligna. O selvagem em sua caverna (um elemento natural que lhe é livremente oferecido para uso e proteção) não se sente um estranho; pelo contrário, sente-se tão em casa quanto um peixe na água. Mas, a habitação do pobre num porão é uma habitação hostil, "um poder estranho, constrangedor, que só se entrega em troca de suor e sangue". Ele não pode considerá-la como seu lar, como um lugar onde afinal possa dizer "aqui estou em casa". Pelo contrário, ele se encontra na casa de outra pessoa, a casa de um estranho que está à sua espera diariamente e o despeja se não pagar o aluguel. Ele também se dá conta do contraste entre sua própria morada e uma residência humana, como as que existem naquele outro mundo, o paraíso dos ricos.

A alienação é evidente não só no fato de meu meio de vida pertencer a outrem, de meus desejos serem a posse inatingível de outrem, mas de tudo ser algo diferente de si mesmo, de minha atividade ser outra coisa qualquer, e, por fim (e isso também ocorre com o capitalista), de um poder desumano mandar em tudo. Há uma espécie de riqueza que é inativa, pródiga e devotada ao prazer, cujo beneficiário se comporta como um indivíduo efêmero de atividade sem propósito, que encara o trabalho escravo dos outros, sangue e suor humanos, como a presa de sua cupidez e vê a humanidade, e a si mesmo, como um ser supérfluo e votado ao sacrifício. Assim, ele adquire um desprezo pela humanidade, expresso na forma de arrogância e de malbaratamento de recursos que poderiam sustentar cem vidas humanas, e também na forma da ilusão infame de que sua extravagância irrefreada e interminável consumo improdutivo é condição indispensável ao trabalho e à subsistência de outros. Ele vê a realização dos poderes essenciais do homem apenas como a realização de sua própria vida desordenada, de seus caprichos e de suas idéias inconstantes e bizarras. Tal riqueza, contudo, que vê a riqueza somente como um meio, como algo a ser consumido, e que é, portanto, tanto senhora como escrava, generosa como mesquinha, caprichosa, presunçosa, vaidosa, refinada, culta e espirituosa, ainda não descobriu a riqueza como uma força inteiramente estranha, mas vê nela seu próprio poder e fruição antes que riqueza. . . meta final. [N3]

(XXI) . . .. e a fulgente ilusão acerca da natureza da riqueza, produzida por sua estonteante aparência física, é defrontada pelo industrial trabalhador, sóbrio, econômico e prosaico, que está esclarecido a respeito da natureza da riqueza e que, embora incrementando a amplitude da vida regalada do outro e lisonjeando-o com seus produtos (pois seus produtos são outros tantos ignóbeis mimos para os apetites do perdulário), sabe como apropriar para si mesmo, da única maneira útil, os poderes decadentes do outro. Malgrado, portanto, a riqueza industrial pareça à primeira vista ser o produto de riqueza pródiga e fantástica, não obstante despoja o último de maneira ativa por seu próprio desenvolvimento. A queda da taxa de juros é uma conseqüência necessária da evolução industrial. Assim, os recursos do arrendatário esbanjador minguam proporcionalmente ao aumento dos meios e oportunidades de divertimento. Ele se vê obrigado, seja a consumir seu capital e arruinar-se, seja a tornar-se ele próprio um industrial. . . Por outro lado, há um aumento constante da renda da terra no decorrer do progresso industrial, mas consoante já vimos deve chegar uma hora em que a propriedade imobiliária, como qualquer outra forma de propriedade, recai na categoria de capital que se reproduz por meio do lucro - e isso é resultado do mesmo progresso industrial. Assim, o perdulário proprietário de terras tem de entregar seu capital e arruinar-se, ou então tornar-se um rendeiro de sua própria propriedade - um industrial agrícola.

O declínio da taxa de juros (que Proudhon considera como abolição do capital e uma tendência para a socialização do capital) é, pois, antes um sintoma direto da vitória completa do capital ativo sobre a riqueza pródiga, i. é, a transformação de toda propriedade privada em capital industrial. É a vitória completa da propriedade privada sobre suas qualidades aparentemente humanas, e a submissão total do dono da propriedade à essência da propriedade privada - o trabalho. É evidente que o capitalista industrial também tem seus prazeres. Ele não retorna absolutamente a uma simplicidade antinatural em suas necessidades, mas sua fruição é somente questão secundária; é recreação subordinada à produção, e, assim, um divertimento calculado, econômico, pois ele anota seus prazeres como um desembolso de capital e o que esbanja não deve ser mais do que pode ser substituído com lucros pela reprodução do capital. Destarte, o divertimento fica subordinado ao capital e o indivíduo amante de prazeres e sujeito ao acumulador de capital, enquanto outrora ocorria o contrário. A queda da taxa de juros é, por conseguinte, um mero sintoma de abolição do capital, na medida em que é um sintoma de seu crescente domínio e alienação que acelera sua própria abolição. De maneira geral, essa e a única maneira pela qual o que existe afirma seu contrário.

A disputa entre economistas a respeito de luxo e poupança, portanto, é apenas uma disputa entre a economia política que se deu bem conta da natureza da riqueza e a que ainda está sobrecarregada com recordações românticas, anti-industriais. Nenhum dos lados, entretanto, sabe como expressar o assunto da disputa em termos simples, ou é capaz, por conseguinte, de resolver a pendenga.

Além disso, a renda da terra, qua renda da terra, foi posta abaixo, pois contra a argumentação dos Fisiocratas de ser o dono da terra o 'único produtor legítimo, a economia moderna demonstra, antes, que o dono da terra como tal é o único arrendatário completamente improdutivo. A agricultura é um negócio do capitalista, que emprega seu capital nela quando pode contar com uma taxa de lucro normal. A afirmação dos Fisiocratas de que a propriedade agrária, como única propriedade produtiva, devia ser a única a pagar impostos e, em conseqüência, ser a única a aprová-los e a participar dos negócios públicos, é transformada na convicção oposta de que os impostos sobre o arrendamento da terra são os únicos impostos sobre um rendimento improdutivo e, assim, os únicos não nocivos ao produto nacional. Está claro que sob este ponto de vista, nenhum privilégio político para os proprietários de terras decorre de sua situação como principais contribuintes de impostos.

Tudo o que Proudhon concebe como um movimento do trabalho contra o capital é somente o movimento do trabalho sob a forma de capital, de capital industrial contra o que não é consumido como capital, i. é, industrialmente. E a esse movimento segue seu caminho triunfante, o caminho da vitória do capital industrial. Ver-se-á que só quando o trabalho é concebido como a essência da propriedade privada é que podem ser analisadas as características reais do movimento econômico propriamente dito.

A sociedade, como é vista pelo economista, é a sociedade civil, em que cada indivíduo é uma totalidade de necessidades e apenas existe para outra pessoa, como esta existe para ele, na medida em que cada um é um meio para o outro. O economista (como a política em seus direitos do homem) reduz tudo ao homem, i. é, ao indivíduo, a quem ele despoja de todas as características com o fito de classificá-lo como capitalista ou como trabalhador.

A divisão do trabalho é a expressão econômica do caráter social do trabalho no quadro da alienação. Ou, visto ser o trabalho apenas uma expressão da atividade humana no quadro da alienação, de atividade vital como alienação da vida, a divisão do trabalho nada mais é que a instituição alienada da atividade humana como uma real atividade da espécie ou a atividade do homem como um ente-espécie.

Os economistas mostram-se muito confusos e contradizem-se a si mesmos acerca da natureza da divisão do trabalho (que, naturalmente, tem de ser olhada como uma força motivadora principal na produção da riqueza desde que o trabalho é reconhecido como a essência da propriedade privada), i. é, acerca da forma alienada da atividade humana como atividade da espécie.

Adam Smith[N4]:

"A divisão do trabalho. . . não é originariamente o efeito de qualquer sabedoria humana. . . E a conseqüência obrigatória, se bem que muito lenta e gradativa, da propensão a barganhar, trocar e cambiar uma coisa por outra. [Quer essa propensão seja um daqueles princípios originais da natureza humana. . .] ou quer, como parece mais provável, seja a conseqüência necessária das faculdades da razão e da fala [não cabe aqui investigar]. É comum a todos os homens e não pode ser encontrada em nenhuma outra raça de animais. . . [Em quase todas as outras raças de animais, o indivíduo] quando atinge a maturidade está inteiramente independente. . . Mas o homem tem oportunidade quase constante para necessitar do auxílio de seus irmãos, e é em vão que ele esperará obtê-lo unicamente da benevolência deles. É mais provável que seja bem sucedido se puder interessar o egoísmo deles em seu favor, mostrando-lhes que será vantajoso para eles fazer-lhe o que lhes solicita. . . Não nos dirigimos à demência deles, mas a seu egoísmo, e nunca falamos de nossas necessidades porém das vantagens deles (págs. 12-13).

"Como é por meio de tratado, de troca e de compra que obtemos de outros a maior parte dos bons ofícios de que mutuamente carecemos, assim também é essa mesma disposição para negociar que originariamente enseja a divisão do trabalho. Em uma tribo de caçadores ou pastores, uma de terminada pessoa faz arcos e flechas, por exemplo, com maior rapidez e perícia que qualquer outra. Freqüentemente as troca por gado ou carne de veado com seus companheiros, e acaba verificando que dessa maneira pode conseguir mais gado ou carne de veado do que se fosse pessoalmente ao campo para pegá-los. Tendo em vista seu interesse próprio, então, a confecção de arcos e flechas passa a ser seu principal negócio. . . (págs. 13-14) .

"A diferença de talentos naturais de homens diferentes. . . não é. . . tanto a causa quanto o efeito da divisão do trabalho. . . Sem a disposição para negociar, trocar e cambiar, cada homem teria que providenciar por si mesmo tudo que desejasse de necessário e conveniente. Todos teriam de ter. . . o mesmo trabalho a fazer, e não poderia ter havido essa diferença de ocupação, a única capaz de dar margem a qualquer diferença grande de talentos (pág. 14).

"Assim como é essa distribuição que forma aquela diferença de talentos. . . entre os homens, também é ela que torna útil tal diferença. Muitas tribos de animais. . . da mesma espécie recebem da natureza uma diferenciação de índole muito mais notável do que, precedendo o costume e a educação, parece ter lugar entre os homens. Por natureza, um filósofo não é no temperamento e na inclinação nem a metade diferente de um carregador do que o é um mastim de um galgo, ou um galgo de um spaniel, ou este último de um cão-pastor. Essas diferentes tribos de animais, contudo, apesar de todas da mesma espécie, são de pouca utilidade uma para a outra. O vigor do mastim (XXVI) não é, pelo me nos, assistido seja pela agilidade do galope, seja. . . Os efeitos desses diferentes temperamentos e talentos, à falta de capacidade ou inclinação para trocar e cambiar, não podem ser congregados em um cabedal comum, e em nada contribuem para melhor acomodação e utilidade da espécie. Cada animal continua obrigado a sustentar-se e a defender-se, separada e independentemente, e não obtém qualquer gênero de superioridade dessa variedade de talentos com que a natureza distinguiu seus semelhantes. Entre os homens, pelo contrário, os mais diversos pendores são de utilidade mútua; os diferentes produtos de seus respectivos talentos, graças à inclinação geral para trocar, negociar e cambiar, são reunidos, por assim dizer, em um cabedal comum, onde cada homem pode adquirir qualquer parte da produção dos talentos de outros homens para que tenha aplicação (págs. 14-15).

"Como é a capacidade de trocar que dá oportunidade à divisão do trabalho, a extensão dessa divisão tem sempre de - ser limitada pela extensão daquela capacidade, ou, por outras palavras, pela extensão do mercado. Quando o mercado é muito pequeno, ninguém pode encontrar qualquer estímulo para dedicar-se inteiramente a um emprego, por falta de capacidade para cambiar a parte excedente de seu próprio trabalho, acima e além de seu próprio consumo, por partes análogas da produção do trabalho de outros homens para que tiver aplicação." (pág. 15).

Num estágio adiantado da sociedade: "Todo homem, pois, vive por meio da troca, ou torna-se, em certa medida. um mercador, e a própria sociedade alcança o que é propriamente uma sociedade comercial" (pág. 20). (Ver Deustutt de Tracy[N5]: "A sociedade é uma série de trocas recíprocas; o comercio é toda a essência da sociedade.") A acumulação de capital aumenta com a divisão do trabalho e vice-versa.

- Até aqui falou Adam Smith.

"Se toda família produzisse tudo o que consome, a sociedade poderia prosseguir sem que tivesse lugar qualquer espécie de intercâmbio. Em nosso estado adiantado de sociedade, a troca, apesar de não ser fundamental, é indispensável."[N6] "A divisão do trabalho é um hábil desdobramento das capacidades do homem; ela aumenta a produção da sociedade - seu poder e seus prazeres - mas diminui a capacidade de cada pessoa considerada individualmente. A produção não pode ter lugar sem a troca."[N7]

- Assim falou J. B. Say.

"As faculdades intrínsecas do homem são sua inteligência e sua capacidade física para trabalhar. As oriundas da situação da sociedade consistem na capacidade para repartir o trabalho e distribuir tarefas entre diferentes pessoas e no poder trocar os serviços e produtos que constituem os meios de subsistência. O motivo que impele o homem a dar seus serviços a outro é o interesse próprio; ele exige uma retribuição pelos serviços prestados. O direito à propriedade privada exclusiva é indispensável ao estabelecimento das trocas entre os homens. . . Troca e divisão do trabalho são mutuamente dependentes."[N8]

- Assim falou Skarbek.

Mill apresenta a troca aperfeiçoada - o comércio - como uma conseqüência da divisão do trabalho:

"A atuação do homem pode ser reconstituída por elementos muito simples. Ele não pode, com efeito, fazer mais nada se não produzir movimento. Pode aproximar as coisas uma da outra, (XXXVII) e pode separá-las uma da outra: as propriedades da matéria desincumbem-se do resto. . . No emprego do trabalho e da maquinaria, constata-se, amiúde, que os efeitos podem ser aumentados pela distribuição hábil, pela separação das operações que têm qualquer tendência a se obstarem mutuamente, e pela conjugação de todas as operações que podem ser feitas de modo a auxiliarem-se umas às outras. Como os homens em geral não podem executar muitas operações diferentes com a mesma rapidez e destreza com que pela prática aprendem a executar algumas, é sempre vantajoso limitar tanto quanto possível o número de operações impostas a cada um. Para dividir o trabalho, e repartir os esforços dos homens e máquinas, com a máxima vantagem, em muitos casos e necessário operar em grande escala; por outras palavras, produzir as utilidades em grandes quantidades. E essa vantagem que dá existência às grandes manufaturas, de que umas poucas, instaladas nos locais mais convenientes, freqüentemente abastecem não um país, porém muitos, com a quantidade desejada da utilidade produzida."[N9]

- Assim falou Mill.

Toda a moderna Economia Política, entretanto, está acorde em que a divisão do trabalho e riqueza da produção, a divisão do trabalho e acumulação de capital, determinam-se mutuamente; e também que só a propriedade privada livre e autônoma pode produzir a mais eficaz e extensiva divisão do trabalho.

O raciocínio de Adam Smith pode ser sintetizado da seguinte forma: a divisão do trabalho confere a este uma capacidade de produção ilimitada. Ela se origina da propensão a trocar e barganhar, uma propensão especificamente humana que provavelmente não é acidental porém determinada pelo uso da razão e da fala. O motivo dos que se empenham nas trocas não é a bondade, mas o egoísmo. A diversidade dos talentos humanos é mais o efeito que a causa da divisão do trabalho, i. é, do intercâmbio. Ademais, é só a última que torna útil essa diversidade. As qualidades particulares das diferentes tribos dentro de uma espécie animal são naturalmente mais pronunciadas que as diferenças de aptidões e atividades dos seres humanos. Mas como os animais não são capazes de estabelecer troca, a diversidade de atributos dos animais da mesma espécie, porém de tribos diferentes, não beneficia qualquer animal individualmente. Os animais são incapazes de combinar as varias qualidades de sua espécie, ou de contribuir para a superioridade e conforto comum da espécie. Dá-se o contrario com os homens, cujos mais diversos talentos e formas de atividade são úteis uns aos outros, porque eles podem reunir seus diferentes produtos em um cabedal comum, de que cada homem pode comprar. Como a divisão do trabalho surge da propensão a trocar, ela se desenvolve e é limitada pela extensão da troca, pela extensão do mercado. Em condições adiantadas, todo homem é um mercador e a sociedade é uma associação comercial. Say encara a troca como acidental e não fundamental. A sociedade poderia existir sem ela. Torna-se indispensável em um estágio adiantado da sociedade. Todavia, a produção não pode ocorrer sem ela. A divisão do trabalho é um meio cômodo e útil, um hábil desdobramento das faculdades humanas para a riqueza social, mas diminui a capacidade de cada pessoa considerada individualmente. O último comentário é um progresso da parte de Say.

Skarbek distingue as faculdades inatas individuais do homem, inteligência e capacidade física para trabalhar, das oriundas da sociedade - troca e divisão do trabalho, que se determinam mutuamente. A condição prévia indispensável da troca, porém, é a propriedade privada. Skarbek exprime aqui objetivamente o que dizem Smith, Say, Ricardo, etc., ao designar o egoísmo e o interesse próprio como base da troca e o regateio comercial como a forma de troca essencial e adequada.

Mill representa o comércio como conseqüência da divisão do trabalho. Para ele, a atividade humana reduz-se a movimento mecânico. A divisão do trabalho e o uso de maquinaria promovem a abundância da produção. A cada indivíduo deve ser dada a menor amplitude possível de operações. A divisão do trabalho e o uso de maquinaria, por sua vez, exigem a produção em massa da riqueza, i. é, de produtos. Essa é a razão para a manufatura em larga escala.

(XXXVIII) A consideração da divisão do trabalho e da troca é do máximo interesse, posto que são a expressão perceptível, alienada, da atividade e capacidades humanas como a atividade e as capacidades próprias de uma espécie.

Declarar que a propriedade privada é a base da divisão do trabalho e da troca é simplesmente afirmar que o trabalho é a essência da propriedade privada; uma afirmação que o economista não pode provar e que desejamos provar para ele. É precisamente no fato de a divisão do trabalho e da troca serem manifestações da propriedade privada que encontramos a prova, primeiro de que a vida humana necessitava da propriedade privada para sua realização, e, segundo, que ela agora exige a revogação da mesma.

A divisão do trabalho e a troca são os dois fenômenos que levam o economista a gabar o caráter social de sua ciência, enquanto, ao mesmo tempo, inconscientemente exprime a natureza contraditória dessa ciência - o estabelecimento da sociedade graças a interesses não-sociais, particulares.

Os fatores que temos de considerar agora são os seguintes: a propensão a trocar - cuja base é o egoísmo - é encarada como a causa do efeito recíproco da divisão do trabalho. Say considera a troca como não sendo fundamental para a natureza da sociedade. A riqueza e a produção são explicadas pela divisão do trabalho e pela troca. O empobrecimento e o desnaturamento da atividade individual devido a divisão do trabalho, são admitidos. A troca e a divisão do trabalho são reconhecidas como as fontes da grande diversidade dos talentos humanos, que por sua vez se torna útil em decorrência da troca. Skarbek distingue duas partes nas faculdades produtivas dos homens: 1) as aptidões específicas ou habilidades, as individuais e inatas, e a sua inteligência; 2) as provindas não do indivíduo real, mas da sociedade - a divisão do trabalho e a troca. Além disso, a divisão do trabalho é limitada pelo mercado. O trabalho humano é simples movimento mecânico; a maior parte é feita pelas propriedades materiais dos objetos. O menor número possível de operações deve ser atribuído a cada indivíduo. Fissão do trabalho e concentração do capital; a nulidade da produção do indivíduo e a produção em massa de riqueza. Significado da propriedade privada livre na divisão do trabalho.


Notas:

[2] Uma parte da página está rasgada neste ponto, e seguem-se fragmentos de seis linhas que são insuficientes para reconstruir a passagem. - Nota do T. (retornar ao texto)

[3] O fim da página está rasgado e faltam várias linhas do texto. - Nota do T. (retornar ao texto)

[4] As passagens seguintes são de A Riqueza das Nações, Livro I, Cap. II, III e IV. Marx refere-se à tradução francesa: Recherches sur la nature et les causes de la richesse des nations, por Adam Smith. Marx cita com omissões e em alguns casos, parafraseia o texto original, usando a edição Everyman, colocando dentro de colchetes as partes que foram parafraseadas. - Nota do T. (retornar ao texto)

[5] Destutt de Tracy, Éléments d'idéologie. Traité de la volonté et ses effets:, Paris, 1826, págs. 68, 78. (retornar ao texto)

[6] Jean-Baptiste, Say, Traité d'économie politique. 3éme édition, Paris, 1817. T. I, pág. 300. (retornar ao texto)

[7] Ibid, pág. 76. (retornar ao texto)

[8] F. Skarbek, Théorie des richesses sociales, suivie d'une bibliographie de l'économie politique, Paris, 1829, T. I, págs. 25-27. (retornar ao texto)

[9 ] James Mill, Elemeats of Political Economy, Londres, 1821. Marx cita da traduçao francesa por J. T. Parisot (Paris, 1823). - Nota do T. (retornar ao texto)

Inclusão 08/11/2007