Como Ganhar a Juventude Socialista

Leon Trotsky

27 de Abril de 1936


Primeira edição: Het Kompas, 23 de janeiro de 1952. Traduzido do holandês [ao inglês] para esta obra por Russell Block. Het Kompas era o boletim interno da seção holandesa da CI. É uma carta a Bep Spanjer, dirigente do setor da juventude holandesa que seguiu no RSAP depois de que um sector passou a SAP. Participou da fundação da Guarda Juvenil Leninista (LJG) em outubro de 1935 e foi seu secretário internacional. A LJG seguiu a Sneev­liet quando este rompeu com a Cl em 1938..
Fonte: https://www.marxists.org/espanol/trotsky/ceip/escritos/libro4/T07V231.htm.
HTML: Fernando Araújo.
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Estimado camarada:

Infelizmente, não pude redigir o artigo que você me solicitou. Primeiro, por falta de tempo, e segundo, porque não quis escrever uma sequência de inutilidades e realmente não estou o bastante familiarizado com suas atividades, planos e oportunidades para comentá-las.
Você diz que o ponto de partida da milícia operária será uma organização esportiva independente, e corretamente aponta: "Nossas organizações seriam muito melhores do que as organizações desportivas social-democratas." No entanto, essa observação justa revela o caráter utópico do plano. Vocês são superiores à social-democracia no campo das ideias revolucionárias, no programa, e não nos recursos financeiros, na capacidade técnica do atleta. Sendo assim, como você poderia construir organizações desportivas melhores? O mesmo é verdadeiro para os sindicatos. Há muitos exemplos históricos de pequenos grupos revolucionários que se tornaram organizações políticas importantes, inclusive decisivas. Mas eu não conheço um só caso de pequenos grupos que conseguiram construir sindicatos rivais com êxito, para não mencionar as organizações desportivas. A juventude deve estudar a história para evitar antigos erros. Precisamos de maior firmeza ideológica, um pensamento revolucionário mais penetrante e claro não para isolar-nos sectariamente das organizações de massa existentes, mas para trabalhar com elas, sem perder a nossa perspectiva.

A juventude social-democrata em todo o mundo entra em conflito com os velhos chefes dos partidos e sindicatos. Se os representantes da Quarta Internacional tomam uma atitude sectária, purista e negativa, os jovens reformistas, na tentativa de mover-se para a esquerda, caem sob a influência do stalinismo. Mas, se nossa gente, em vez de admirar a própria pureza, encontra o seu lugar nas organizações de massas, a juventude que se gira para a esquerda entra em contato com o anti-stalinismo, ou seja, o marxismo.

Na Espanha, onde a nossa seção aplica-se uma linha política desprezível, os jovens, que estavam começando a ter interesse na Quarta Internacional, foram deixados para os stalinistas. Na Inglaterra, onde os nossos demoraram a participar, os stalinistas tornaram-se a força mais importante dentro da juventude do Partido Trabalhista e ocupamos o segundo lugar. Na Bélgica, os nossos camaradas ganharam um importante setor da juventude, opuseram a maioria ao stalinismo e abriram novos campos de atividade. Mas, em Bruxelas, onde Vereecken e seu grupo permanecem à margem, a ala esquerda do Partido Trabalhista e a juventude têm caído sob a influência dos stalinistas. Nos Estados Unidos, onde os nossos camaradas aplicaram uma linha política bastante correta, ganharam um importante setor da juventude social-democrata. Quem se recusa a considerar esses fatos só cometerá erros.

Querido camarada, seus julgamentos sobre o partido americano se baseiam em relatórios errados. Nossa gente já ingressou nas organizações socialistas. A direção, ainda, não o fez por razões táticas. E é possível que já tenham feito isso. Os nossos camaradas americanos deram um passo muito ousado. Estão tão determinados e têm tanta confiança em si mesmos que contemplam o futuro com muita confiança e até mesmo os mais amargos entre os antigos adversários [do entrismo] executam entusiasticamente suas tarefas no Partido Socialista. Não esperam ganhar uma minoria, mas a maioria do partido para as nossas ideias. Naturalmente, eu não posso formar uma opinião de longe, porém conheço bem os nossos amigos americanos e confio plenamente neles, especialmente considerando que começaram o entrismo com tanta decisão e por unanimidade. Proponho aos nossos camaradas holandeses: critiquem menos e estudem mais a experiência dos Estados Unidos, para poder adaptar à situação no seu país.

Devo admitir que o que você diz sobre "formar blocos com as organizações de juventude" não foi muito convincente. Grandes organizações raramente formam blocos com grupos pequenos, e com razão. Por outro lado, pequenos grupos não tiram qualquer benefício prático do jogo com os blocos: a nossa experiência belga demonstra amplamente. Se os dirigentes de uma organização de várias centenas de jovens se reúnem, uma ou duas vezes por mês, com os líderes das organizações de massas, isso lisonjeia sua vaidade, mas não cria nenhuma oportunidade. É necessário ganhar as bases dos dirigentes, não se dedicar à diplomacia com os líderes.

Com meus melhores cumprimentos,

Fraternalmente,
L. Trotsky

P.D. Você interpreta a carta do camarada Braun no sentido de que é necessário construir um partido independente na Bélgica, custe o que custar, para manter nossa independência. Mas não é assim, de nenhuma maneira. Nossos camaradas de Charleroi renunciaram temporalmente a sua independência formal, para ampliar seu campo de ação. Alcançaram um sucesso inquestionável. Porém, dado que atuaram como revolucionários e não como oportunistas, se produziu um conflito político de grande importância. Agora se trata de seguir até o fim. Porque embora não sejamos sectários para em nenhum caso (jamais e em nenhum lugar) desejarmos entrar nas organizações reformistas, tampouco somos como o SAP, que apenas entra em uma organização de massas se nega a sair, ou seja, está disposto a sacrificar o que resta de seus princípios políticos. É necessário compreender o profundo significado do verbo manobrar: o movimento revolucionário só é movimento quando não está parado!

L.T.


Inclusão 27/02/2015