Carta a James P. Cannon

Leon Trotsky

12 de Setembro de 1939

Transcrição autorizada
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Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.


Querido Jim:

Estou escrevendo um estudo sobre o caráter social da URSS, relacionado à questão da guerra. Este estudo, mais sua tradução, exigirá pelos menos outra semana de trabalho. As idéias fundamentais são as seguintes:

1. Nossa definição da URSS, pode ser correta ou equivocada, mas não vejo razão alguma para que esta definição se torne dependente do pacto germânico-soviético.

2. O caráter social da URSS não está determinado pela sua amizade com a democracia ou o fascismo. Quem adotar semelhante ponto de vista, se converte em prisioneiro da concepção stalinista da época da Frente Popular.

3. Quem disser que a URSS já não é mais um Estado operário degenerado, mas sim uma nova formação social, deve dizer claramente o que é que acrescenta de novo às nossas conclusões políticas.

4. A questão da URSS não pode se isolar, como algo à parte, do processo histórico de nosso tempo em seu conjunto. Ou o estado de Stalin é uma formação transitória, é uma deformação de um estado operário em um país atrasado e isolado, ou o “coletivismo burocrático” (Bruno R., La Bureaucratisation du Munde, Paris, 1939) é uma nova formação social, que está substituindo o capitalismo em todo o mundo (stalinismo, fascismo, New Deal etc.). As experiências terminologias (Estado operário ou Estado não-operário; classe ou não-classe etc.) só adquirem um sentido, a partir desta perspectiva histórica. Quem eleger a segunda alternativa admite, abertamente ou não, que todas as potencialidades revolucionárias do proletariado mundial estão esgotadas, que o movimento socialista está indo à falência, e que o velho capitalismo está se transformando em “coletivismo burocrático” com uma nova classe exploradora.

A enorme importância de tal conclusão é, por si só, evidente. Diz respeito a todo o destino do proletariado mundial e da humanidade. Temos o mínimo direito de adentrarmos, através de experiências puramente terminológicas, em uma nova concepção histórica, que se encontra em absoluta contradição com o nosso programa, nossa estratégia e nossa tática? Um salto tão aventureiro seria duplamente criminoso hoje em dia, por causa da guerra mundial, quando a perspectiva de revolução socialista se converte em uma realidade eminente e quando a questão da URSS vai se mostrar a todos, como um episódio transitório no processo da revolução socialista mundial.

Escrevo estas linhas apressadamente, por isso insuficientes; mas dentro de uma semana espero enviar minhas teses mais elaboradas.

Saudações fraternas,

V.T.O. (Leon Trotsky)(1)


Notas:

(1) Devido às condições de sua residência, em vários países do mundo onde viveu antes de seu exílio, muitas vezes Trotsky usava pseudônimos em suas cartas. Frequentemente, assinava suas cartas com o nome de seu secretário inglês. (retornar ao texto)

capa
Inclusão 16/04/2009
Última alteração 20/05/2014